segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Cancerofobia

Cancerofobia, uma inimiga da prevenção

Especialistas alertam: lendas sobre o câncer espalham o medo e afastam as pessoas do tratamento adequado

Fernanda Aranda, iG São Paulo | 06/08/2010


Foto: Getty Images

Informações falsas sobre o câncer são espalhadas pela internet e prejudicam tratamento

Tão variados como os sintomas do câncer – que vão desde pequenas feridas na pele à dor de cabeça sem fim – é a lista de causas da doença que mais cresce no mundo.

Vira e mexe chega um e-mail trazendo a descoberta de mais um vilão capaz de aumentar em minutos o número de pacientes com câncer. Desodorante roll-on, água oxigenada e ondas emitidas pela rádio do Vaticano, pela antena do celular e pela tela do computador são só alguns exemplos de “causadores de câncer” que foram espalhados pelo mundo como verdades absolutas.

A maior parte da associação do uso do objeto e/ou substância com a doença não tem o respaldo de pesquisas sérias.

Na disseminação de lendas cancerígenas, afirmam os especialistas, nasce o fenômeno da “cancerofobia”, que pode afastar a população dos comportamentos seguros, de fato, e impedir as complicações dos tumores malignos.

“Qualquer comportamento fóbico (medo exagerado) provoca um efeito contrário daquele que esperamos”, afirma Maria Teresa Veit, psicóloga especializada em câncer, coordenadora da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale).

“O maior problema da fobia é que ela leva para postura irracional. Já vi casos de pessoas que pensam: ‘então, se tudo provoca câncer, eu nem preciso me cuidar’, o que não é adequado muito menos lógico.”

Outro efeito colateral creditado às correntes que espalham inverdades sobre o câncer é que o excesso de informações falsas faz com que as pessoas se preocupem com o que não é prioritário nem científico. Se por acaso alguém aderir ao hábito de tomar água oxigenada todos os dias por acreditar que a técnica previne tumores – conforme sugeriu um e-mail com as declarações de um suposto médico israelense – pode dar menos peso às orientações de parar de fumar e comer mais frutas e legumes, estas táticas sim já comprovadamente preventivas da doença, conforme endossa o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Boca a boca virtual

Orkut, Twitter, Facebook e e-mails são hoje um terreno fértil para espalhar as pesquisas “sem dono” sobre o câncer. Mas mesmo antes da internet, o boca a boca já era suficiente para criar teorias conspiratórias e perigosas, que comprometiam o tratamento e o combate à doença.


Foto: Divulgação

Pesquisa da Fiocruz mapeou pesquisas antigas sobre o câncer e encontrou a cancerofobia já em 1940

O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Luiz Antônio Teixeira, que trabalha na Casa Oswaldo, fez um levantamento sobre como eram as propagandas contra o câncer entre 1920 e 1950. Já nesta época as autoridades de saúde enxergavam a necessidade de desmentir as correntes sobre a doença. “Cancerofobia! Só os ignorantes e nervosos têm medo de tudo na vida”, dizia um dos cartazes de 1940.

Segundo o pesquisador, nestes tempos, a população leiga acreditava que o câncer era doença contagiosa, que passava de pessoa para a pessoa. Existia ainda a figura do curandeiro e do charlatão, muito mais presente do que hoje, que exigia das autoridades de saúde uma estratégia de coibir as magias e simpatias tidas como infalíveis para afastar a doença.

“Hoje, embora existam estes mitos virtuais com o câncer, a população tem mais acesso à saúde, o que diminui muito o espaço do charlatão”.

“O que acontece é que, via internet, as pessoas têm acesso a muitas informações. Mas nem toda informação agrega conhecimento. Pelo contrário”.

Nome de muitas coisas

A psicóloga Maria Teresa Veit acredita que são duas as explicações principais para o câncer permanecer no alvo dos mitos e lendas durante tantos anos. Primeiro, a palavra câncer é um nome genérico para muitas doenças, que se manifestam de formas diferentes e têm tratamentos em nada parecidos. Exemplo de antagonismos é o câncer de mama e o de próstata. O primeiro é majoritariamente feminino e tem como arma preventiva o autoexame e a mamografia. O segundo é um tipo masculino e prevenido com visitas ao urologista e com exame de toque.

O outro motivo é o fato do câncer ser uma doença diversificada e muitas vezes até misteriosa para a medicina. Como as pesquisas sobre as causas da enfermidade estão em constante andamento, o campo composto por descobertas diárias dá margem para os mitos florescerem.

Informação útil

Separar o “joio do trigo” é a dica para não cair nas informações errôneas sobre o câncer. A doença exige, sim, cuidados e a internet é um bom território para conseguir informações sobre o problema de saúde que só este ano deve fazer 489.230 novas vítimas, segundo o Inca.

Leia também

· Sutiã e câncer de mama: a história de uma farsa

“Os médicos têm de estar preparados para responder as dúvidas que nascem no meio virtual. Além disso, é fundamental para as pessoas que recebem informações checarem muito bem quem são os autores e a veracidade do que está escrito”, completa Veit. “Quanto mais educação sanitária, menos espaço para os mitos”, completa o pesquisador Teixeira.

Para não cair nos mitos sobre o câncer

- Sempre procure qual é o instituto, universidade, centro médico responsável pela informação sobre o câncer

- Se aparecer um nome de um autor da pesquisa, procure o currículo virtual (disponível nas instituições que se dizem vinculados)

-Não deixe de procurar os conselhos profissionais (conselho de medicina, enfermagem, psicologia, fisioterapia, nutrição) para checar as informações fornecidas ou creditadas pelo autor

-Se ficar com dúvidas, leve a informação para o seu médico de confiança e discuta onde conseguir mais dados sobre o assunto

7 comentários:

  1. Ótima postagem Rosário! O que tenho lido de bobagens vc não tem idéia, e ainda tem aqueles que querem dar uma explicação do porque de ter adquirido isso. O importante é sem dúvida procurar informações seguras. Converso muito com minha oncologista, falando nisso amanhã vou na consulta e vou perguntar sobre as oficinas tá? Fica com Deus! Bjssssssssss

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  2. Isso mesmo, temos que ficar atentos, a unica coisa boa que tem que permanecer firme em nois e a Fe!Bjus

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  3. Querida Rosário!
    Muito boa a postagem. Recebo de muitas pessoas e-mails sobre câncer. Recebi um que dizia que para evitá-lo não se deveria tomar leite porque ocorre um aumento de muco (polissacarídeo) que as céluas se alimentam. Não comer carne vermelha, não comer chocolate, mão tomar café, chá, só beber água filtrada duas vezes........e em fim uma lista enorme. Pensei, se for verdade vamos nos alimentar de sol e na sobra pq os raios podem causar câncer de pele...
    O que tiver que ser será....Ir ao médico,alimentar-se bem, ter hábitos saudáveis de vida, fazer exercícios, esses eu recomendo através do meu onco.E vamos viver a vida que nos resta.
    Te abraço

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  4. Eu li esta matéria. E tem gente que até hoje não fala nem o nome da doença. E moram no Rio e SP. Já imaginaram no interior?
    Campanhas já.
    Podíamos eStrelaR uma não é RÔ? A TURMA TODA AQUI. lINDASSSSSSSSSSSSSSSSSS

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  5. Cristina o que gente recebe de email, receitas caseiras e mais um montão de coisas parece até brincadeira. Minha amiga, traga sempre boas noticias de sua médica.
    bjs:)

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  6. Oi lucia, estava com saudades vc ficou um pouco ausente. E os exames como foram?
    Bjs:)

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  7. Vera, na sexta-feira lá no BENDIZER, falamos exatamente de que hoje TUDO pode provocar câncer.
    Concordo com vc, alimentação saudável e uma vida com alegria, não faz mal a ninguém inclusive para a elite cancerigina!! bjs :)

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