quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O TOQUE...


Uma nova paciente chega ao meu consultório, uma saudável mulher de meia-idade. A assistente médica já registrou sua pressão sanguínea normal. De nossos 15 minutos agendados, passo mais de dois terços conversando com ela.

Pergunto sobre seu histórico médico pessoal e familiar. Pergunto sobre seu estilo de vida: que tipo de trabalho ela faz, se fuma, quanto pratica de exercícios, se ela come cinco porções de frutas e vegetais por dia. Reviso sua “manutenção de saúde”: se ela está em dia com mamografias, papanicolau, vacinas.

Pressiono nos minutos finais, aconselhando sobre cálcio, filtro solar, cintos de segurança. Busco por sinais de depressão, violência doméstica. Lembro-a sobre a vacina contra a gripe, colonoscopia. Entrego folhetos sobre alimentação saudável e exercícios, e conversamos sobre formas de encaixar atividades físicas em seu emprego sedentário.

Então, me parabenizo por um trabalho bem feito. Cobri todos os tópicos relevantes. Toquei em todos os fundamentos da medicina preventiva para uma mulher saudável. E consegui até mesmo acabar na hora certa, para não deixar o próximo paciente esperando.

Porém, minha paciente tem no rosto uma expressão estranha. Ela parece perguntar: “É só isso?”

Realmente, durante nossa longa discussão (e o exame de pressão inicial), nós completamos todas as intervenções médicas que as evidências científicas validaram como úteis para um paciente saudável. Mesmo assim, minha paciente está claramente insatisfeita. Uma consulta ao médico não é uma consulta ao médico até que um estetoscópio tenha sondado os ritmos internos do coração, ou até que mãos profissionais tenham apalpado a barriga. Pesquisas mostraram que os pacientes sempre esperam um exame físico.

Mas existe alguma pesquisa mostrando que um exame físico – numa pessoa saudável – traz qualquer benefício? Apesar de uma longa e célebre tradição, o exame físico é mais um hábito do que um método clinicamente comprovado de encontrar doenças em pessoas assintomáticas. Existem poucas evidências para sugerir que ouvir rotineiramente os pulmões de todas as pessoas saudáveis, ou pressionar seus fígados, encontrará uma doença que não houvesse sido sugerida pelo histórico do paciente. Para uma pessoa saudável, uma “descoberta anormal” num exame físico tem mais chances de ser um falso positivo do que um sinal real de doença.

Além disso, um exame físico normal não pode assegurar a um paciente que não existe nenhuma doença à espreita nas sombras.

Mas o exame físico serve a qualquer outra proposta? O relacionamento médico-paciente é fundamentalmente diferente, por exemplo, da relação entre contador e cliente. O toque das mãos coloca os praticantes de medicina longe de seus correspondentes do mundo dos negócios. Apesar da invasão da medicina baseada em evidências, imagens de ressonância magnética, angiografias e exames PET, há claramente algo de especial, talvez até mesmo de cura, no toque. Existe um calor de conexão que substitui qualquer fator intelectual, e essa conexão atinge os dois lados do relacionamento médico-paciente.

Nós temos apenas mais alguns minutos em nossa consulta, mas a levo até a maca de exame. Coloco minha mão em seu ombro e passo meu estetoscópio por suas costelas. Enquanto escuto o fluxo de ar (que tenho 99,9% de certeza estar perfeitamente normal), sinto os corpos de nós duas relaxar levemente.

Levo a base do estetoscópio até seu coração e, mesmo sabendo haver uma chance minúscula de ouvir qualquer som indicando uma doença grave, os ritmos familiares confortam meus ouvidos. Enquanto examino seu abdômen, continuamos conversando – mas com uma troca perceptível na forma de nossa interação.

A natureza polida e profissional de nossa conversa inicial se derreteu. Não importa como chegamos a esta sala, a estas posturas, a esta conexão, agora somos mais íntimas. Mesmo se nossa conversa inicial tivesse sido marcada por frustração ou raiva, o timbre de nossa interação teria se suavizado. É quase impossível ficar irritado ou seco quando pele está tocando pele.

Talvez esse seja o centro da questão. O toque é inerentemente humanizador e, para que uma relação médico-paciente tenha qualquer significado além de uma interação comercial, é preciso haver confiança – das duas partes. Como já foi provado em maternidades e intuído pela maioria dos médicos, enfermeiras e pacientes, uma das maneiras mais básicas para estabelecer confiança é através do toque.

Me arrepio sempre que a administração do hospital se refere a médicos e enfermeiras como “provedores de saúde”. Esse termo sempre me fez sentir como uma máquina de refrigerantes no Burger King. Eu não sou uma “provedora”; sou uma pessoa, uma médica. E minha paciente não é uma “cliente”. Nós não estamos fazendo negócio.

É por isso que a consulta ao médico nunca parece completa sem um exame físico. Ele é parte essencial da relação médico-paciente, que não pode ser subestimada. E ninguém precisa de um estudo cientifico para provar isso.

* Danielle Ofri é médica em Nova York. Seu último livro publicado se chama “Medicine in Translation: Journeys With My Patients” (Medicina em Tradução: Jornadas com Meus Pacientes, em tradução livre)

Amigos e amigas qual sua opinião a respeito deste assunto???

Abraços Apertados :)

16 comentários:

  1. Oi querida Rô. Não perguntei antes: vc recebeu meu recadinho na eletrônica aí? Quando fui à Sampa.
    Bem, mas vamos ao que interessa.
    Melhor que o toque é aquela conversa profunda e vasculhar o histórico de vida. Acho o toque importante, mas não define nada em alguns casos masi graves. É preciso a complementação das imagens.
    Mas ainda assim, vamos considerar.
    Bom dia turma do Presentão.

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  2. Voltei rssrrsrsrs. Hoje tô que tô.
    Por falar em pressionar fígado...como amassam o meu. Para ver se aumentou. Mas a resô é o tira prova.
    Rô que hospital este Sírio heim... bonitão.

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  3. Interessante mesmo.

    Mas o que mais me toca é o olho no olho, o enxergar o médico pro dentro, ver atenção nele e não apenas mais um número no seu cadastro de pacientes.

    Isso pra mim fala mais!

    beijos,lindo dia,tuuuudo de bom,chica

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  4. Oi Rô!
    Não concordo qdo o texto diz que numa pessoa saudável (aparentemente) o exame físico não tem valor para os parâmetros clínicos.
    Numa consulta, o exame físico é imprescindível para um bom exame clínico, seja o paciente saudável ou não.
    Sem dúvida alguma, os exames de imagens e os de laboratório vão complementar o exame físico e reforçar os achados mas sinceramente, pra mim, médico que não faz exame físico não é bom médico, não estuda e não se atualiza. É preguiçoso.
    O toque, tem sim sua importância emocional, mas EXAMINAR e saber fazer uma boa anamnese (histórico de vida) é fundamental para um exame clínico decente.

    Hummmm... quanto e essa doutora, autora do texto, hummmm... prefiro não comentar...

    Beijão
    LindaZ

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  5. Como a amiga Rô me deu confiança lá no meu Blog e perguntou o que deve fazer para esvaziar o saco, lá vai: ksksksksksksk
    coloquei lá tb.
    Passeio com alguém auspicioso só para ver paisagem, filmiha comédia enrolada no cobertor, uma música romântica e recordar é viver, e planejar a hora do recreio.
    Ah esqueci de colocar lá. Nada melhor que o puppy aos nossos ~´es e lambidas terapeuticas.
    Caso nada dê certo, pegar um avião -milhas e se mandar para o Rio.

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  6. Oi Rosário. Acho muito importante o toque, a conversa, a atenção ao paciente. Não gosto daquelas consultas rápidas que não deixam o paciente falar sobre o que se passa com ele. E por último os exames são de grande ajuda. Enfim, aliar o bom médico de família a tecnologia dos exames ficaria perfeito! E vc melhorou? Espero que sim viu? Bjssssssssssss

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  7. A minha opinião é a de que toque, conversa e olhar são fundamentais; detesto aqueles médicos frios, apressados que não levantam os olhos e que se limitam a ouvir e prescrever os medicamentos e exames; um médico que me atenda assim não volta a ver-me. Eles têm de ter em conta tb que muitas pessoas estão sofrendo mais da alma do que do corpo e esse carinho por parte do clínico é importantíssimo; é necessário que ele saiba escutar o paciente e que explique com calma o que acha que ele tem;hoje en dia, eles não querem estar com trabalho e passam logo aos exames que muitas vezes são em exagero Um simples toque, um diálogo entres os dois seriam suficientes para descobrir o problema. Se quiserm que cobrem mais, mas que ouçam o que temos para dizer e nos expliquem o que se passa. Já aconteceu de eu ter de perguntar..."mas, sr. Dr, porque vou tomar isto?". Claro...a esse não volto mais! Um beijinho, querida Ro e espero que já esteja melhor. Vai, desta vez carregadinho de parabéns pelo tema deste post. Dava pano para mangas, como se costuma dizer.
    Mila

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  8. Interessante!

    Confesso que detestava ir a médicos, mas depois de começar meu tratamento, passei a ver isso de outra maneira. Meu medo de sofrer, de injeções, era tão grande, que transferia isso pro profissional que se dedica a nos ajudar a restabelecer nossa saúde.
    Tenho uma boa relação de amizade com meu médico, ele realmente se importa comigo, vibra com minhas vitórias, torce pelo meu tratamento, conversa, enfim, é um grande amigo, e não me importo se em algumas consultas não há exame clínico. O olhar, como disse a amiga mais acima, a análise dos resultados e a conversa (não apenas técnica) fazem a diferença.

    Beijos

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  9. Eliane, Sirio só para vices meu amor... é luxo puro!

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  10. Querida Rosário!
    Felizmente os médicos que me atenderam sempre foram excelentes, começando pelo meu obstetra que além de um homem lindo era um ótimo profissional.Minha ginecologista estudou comigo então "velhas amigas" fazíamos festa para comemorar o aniversário do Rei Roberto Carlos então imagina... Agora o meu onco também, muito amigo e casado com uma minha aluna então entre apalpos e sobressaltos espero sempre uma boa notícia "está tudo bem". Acredito que o exame físico, oscultar coração, abdome, pulmão dão ao profissional alguns indícios que serão ou não confirmados pelos exames de imagem e de laboratório.
    Exame de toque pura e simplesmente só para parturiente e veja lá....
    Te abraço
    Continue se cuidadndo, amanhã será melhor que hoje...

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  11. Chica, olho no olho é sempre bom em momentos delicados. bj:)

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  12. LindaZ sempre precisa no comentário... bjs:)

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  13. Exames, tecnologia aliados a um laço (E.Furtado)bem apertado faz muita diferença. bj:)

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  14. Eliane... acho que vou para o RJ, vou combinar qq hora dessa com LindaZ e o príncipe tb.
    Adorei a lista! :)

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  15. É Mila, com toda certeza tb não voltam me ver. A primeira Onco que fui, fiquei 10 minutos na cadeira e ela despejou em mim como se fosse um cimento. Foi falando, falando sem seguer erguer os olhos.. Sai da sala sem nem saber que rumno tomar.Foi horrivel. bjs:)

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  16. Carin, sempre é bom ter uma empatia com quem vai nos manter viva! :) bjs minha querida!

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